É triste admitir, mas cada dia
mais creio que nos apaixonamos pela pessoa que criamos na nossa cabeça. Talvez
por inocência, talvez por esperança e um resquício de amor romântico que
insiste em permear nossos pensamentos levando-nos a imaginar “a pessoa ideal”. Tão
frustrante é ver que “aquele cara” na verdade é “só isso? ”. Que classe de
arrogância se apodera de nossos pensamentos para chegar a essa conclusão? Será
mesmo arrogância ou amor próprio?

Apesar da descrença ser cada vez
mais presente, às vezes, bem às vezes mesmo, aparece alguém que assopra aquela
brasinha no nosso coração e levantam-se labaredas: “Uau! Alguém para compartilhar! Alguém que eu posso
fazer feliz e que pode me fazer feliz também! ”. Aí passado um tempo (cada vez
mais curto), olhamos para essa pessoa, pensamos: “Anh? Esse é o fulano?”. O que
vem a seguir já é sabido: decepção. E cada vez se fazem verdadeiros os versos “lágrimas
por ninguém, só porque é triste o fim. Outro amor se acabou.” E dizemos “ADEUS”.
Joseph Campbell, em “O poder do mito” diz “Penso
que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que
nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no
interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente
sintamos o enlevo de estar vivos.” Talvez o problema seja a nossa concepção
sobre o “enlevo de estar vivos”, essa sensação que muitas vezes buscamos nos outros
e, na verdade, devamos em cada momento, momentinho da nosso vida, nas pequenas
realizações.

Ver as coisas sem romantizá-las nos trará certamente uma vida emocional
e mental mais saudável. Veremos a graça, o sabor e a magia em outros aspectos. É quase como adaptar o paladar: aprendemos a deixar de
lado aquela coxinha, nhoque ou pizza cheia de queijo por uma salada com
filé grelhado.Sai a gordura, entram os nutrientes. E como em uma reeducação (alimentar ou não), vemos o
resultado a médio e longo prazo. A morte do amor romântico é o nascimento da
maturidade emocional. Nesse sentido, sai a fantasia e entra o entendimento de viver intensamente cada momento pensando que o outro é na verdade o sortudo da vez. Se ele será o sortudo para toda a vida, bem, essa é outra história.
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