terça-feira, 5 de setembro de 2017

Tempo: o melhor exterminador de vermes.

Tenho percebido que ultimamente minha paciência anda perto de zero. ZERO. Não acredito nas historinhas “o que essa pessoa te acrescenta?”, “pra que você precisa dessa pessoa?”, “o que você ganha sendo amigo de fulano?”. Penso que nossos amigos realmente estão além do material. Existe, entre as pessoas que se gostam, algo imaterial que proporciona o prazer de estar juntos. Não precisa dar presentinhos, não precisa fazer favores, não precisa tecer elogios a todo momento. Basta estar ali, basta ter identificação na essência do que se é. Não importa o time que torce, o gosto musical, o estilo de se vestir. A essência importa, isso sim, muito. Amigos são escolha. Trata-se de mais uma relação bilateral na qual companheirismo e compreensão são essenciais.
Tenho notado, no entanto, que talvez nos aproximemos de pessoas que não tem absolutamente NADA de parecido com nossa essência. Nos aproximamos de pessoas seja por questões profissionais ou através de outros amigos e abrir a intimidade para essas pessoas pode ser muito perigoso. Esses seres sabem se passar por ótimas pessoas, são ótimos manipuladores que querem você só para eles e isso vira realmente uma relação parasita-hospedeiro.
                Na minha última experiência (sim, caí em mais de uma), o parasita graças ao bom Deus se mudou de cidade e isso ajudou a fase de “desmame”. No entanto, percebo que que esse parasita ainda aproveita qualquer brecha (por meio das redes sociais, inclusive) para dizer “nossa, como você era bonita naquela época” ou “ah, você não é totalmente burra”. Alguém que tem coragem de ofender a quem chamava de “amigo” por pura vaidade mostra que é capaz de qualquer coisa para ver o outro por baixo.
Fico me perguntando qual é o objetivo dessa pessoa ao emitir frases com o intuito de irritar ou ofender. Além de fingir que não entendo, acredito que esses ataques sejam uma forma desesperada de causar alguma reação, de atingir, de fazer sentido ou ter relevância para alguém, no caso eu, que não quer NENHUM TIPO DE CONTATO. Bom, talvez o objetivo tenha sido alcançado, afinal, cá estou escrevendo um texto sobre isso.

Continuo não querendo ter nenhum contato, porém permito que isso ocorra porque não é inteligente querer concorrer com gente que ocupa parte do seu tempo pensando em coisas para dizer com a finalidade de diminuir o outro (sobretudo se fazem parte do meio profissional). É um jogo muito difícil de jogar para mim porque envolve respirar fundo para não mandar à merda e minha paciência anda cada vez menor. A palavra-chave talvez seja “lidar”. A vontade é dizer “Eu sei o que você está fazendo, mas estou com preguiça de brigar, então, poupe-nos”. Claro que isso geraria uma vitimização imediata e, portanto, concluo que não vale o desgaste e um possível filme torrado em todos os meios em comum. Melhor deixar o tempo e as pessoas se encarregarem de perceber o parasita que as rodeia e boa sorte a todos na fase de desmame. 

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Só isso?


                É triste admitir, mas cada dia mais creio que nos apaixonamos pela pessoa que criamos na nossa cabeça. Talvez por inocência, talvez por esperança e um resquício de amor romântico que insiste em permear nossos pensamentos levando-nos a imaginar “a pessoa ideal”. Tão frustrante é ver que “aquele cara” na verdade é “só isso? ”. Que classe de arrogância se apodera de nossos pensamentos para chegar a essa conclusão? Será mesmo arrogância ou amor próprio?
                Ok, a “metade da laranja” sempre me pareceu algo terrível. Sério. Me aterrorizou desde sempre pensar que dependo de alguém para ser completa. No entanto, a ideia de ter um companheiro para compartilhar as coisas boas da vida sempre me agradou. Claro, isso como eu disse, é uma ideia. Na vida real, a experiência mais próxima que tive disso foi alguém querendo dividir as coisas boas. Percebi aí a diferença entre dividir e compartilhar. Foi difícil primeiramente admitir isso, depois fazer algo sobre isso e mais tarde perceber que esse aprendizado se deu por meio de muito tempo de vida, lágrimas e um julgamento bem duro da sociedade (afinal, terminar um relacionamento perto dos 30, para uma mulher, é quase um suicídio social).
                Apesar da descrença ser cada vez mais presente, às vezes, bem às vezes mesmo, aparece alguém que assopra aquela brasinha no nosso coração e levantam-se labaredas: “Uau! Alguém para compartilhar! Alguém que eu posso fazer feliz e que pode me fazer feliz também! ”. Aí passado um tempo (cada vez mais curto), olhamos para essa pessoa, pensamos: “Anh? Esse é o fulano?”. O que vem a seguir já é sabido: decepção. E cada vez se fazem verdadeiros os versos “lágrimas por ninguém, só porque é triste o fim. Outro amor se acabou.” E dizemos “ADEUS”.
                Joseph Campbell, em “O poder do mito” diz “Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos.” Talvez o problema seja a nossa concepção sobre o “enlevo de estar vivos”, essa sensação que muitas vezes buscamos nos outros e, na verdade, devamos em cada momento, momentinho da nosso vida, nas pequenas realizações.
                E quando o pessimismo vier dizendo “outra vez na pista, outra vez os sonhos despedaçados e apenas a alegria de ter percebido logo”, devemos pensar que todos somos resultados de nossas experiências e, certamente, ficamos mais “sóbrios” quando se trata de relacionamentos. A embriaguez do encantamento amoroso fica cada vez mais curta e a vida vai ficando bem mais sem graça, sem tanto sabor, sem tanta magia. E isso é necessariamente ruim? Afinal, já passou do tempo de achar que a abóbora vai virar uma carruagem, né?
Ver as coisas sem romantizá-las nos trará certamente uma vida emocional e mental mais saudável. Veremos a graça, o sabor e a magia em outros aspectos. É quase como adaptar o paladar: aprendemos a deixar de lado aquela coxinha, nhoque ou pizza cheia de queijo por uma salada com filé grelhado.Sai a gordura, entram os nutrientes. E como em uma reeducação (alimentar ou não), vemos o resultado a médio e longo prazo. A morte do amor romântico é o nascimento da maturidade emocional. Nesse sentido, sai a fantasia e entra o entendimento de viver intensamente cada momento pensando que o outro é na verdade o sortudo da vez. Se ele será o sortudo para toda a vida, bem, essa é outra história.