É triste admitir, mas cada dia
mais creio que nos apaixonamos pela pessoa que criamos na nossa cabeça. Talvez
por inocência, talvez por esperança e um resquício de amor romântico que
insiste em permear nossos pensamentos levando-nos a imaginar “a pessoa ideal”. Tão
frustrante é ver que “aquele cara” na verdade é “só isso? ”. Que classe de
arrogância se apodera de nossos pensamentos para chegar a essa conclusão? Será
mesmo arrogância ou amor próprio?
Ok, a “metade da laranja” sempre
me pareceu algo terrível. Sério. Me aterrorizou desde sempre pensar que dependo
de alguém para ser completa. No entanto, a ideia de ter um companheiro para
compartilhar as coisas boas da vida sempre me agradou. Claro, isso como eu disse,
é uma ideia. Na vida real, a experiência mais próxima que tive disso foi alguém
querendo dividir as coisas boas. Percebi aí a diferença entre dividir e compartilhar.
Foi difícil primeiramente admitir isso, depois fazer algo sobre isso e mais
tarde perceber que esse aprendizado se deu por meio de muito tempo de vida,
lágrimas e um julgamento bem duro da sociedade (afinal, terminar um relacionamento perto dos 30, para uma mulher, é quase um suicídio social).
Apesar da descrença ser cada vez
mais presente, às vezes, bem às vezes mesmo, aparece alguém que assopra aquela
brasinha no nosso coração e levantam-se labaredas: “Uau! Alguém para compartilhar! Alguém que eu posso
fazer feliz e que pode me fazer feliz também! ”. Aí passado um tempo (cada vez
mais curto), olhamos para essa pessoa, pensamos: “Anh? Esse é o fulano?”. O que
vem a seguir já é sabido: decepção. E cada vez se fazem verdadeiros os versos “lágrimas
por ninguém, só porque é triste o fim. Outro amor se acabou.” E dizemos “ADEUS”.
Joseph Campbell, em “O poder do mito” diz “Penso
que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que
nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no
interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente
sintamos o enlevo de estar vivos.” Talvez o problema seja a nossa concepção
sobre o “enlevo de estar vivos”, essa sensação que muitas vezes buscamos nos outros
e, na verdade, devamos em cada momento, momentinho da nosso vida, nas pequenas
realizações.
E quando o pessimismo vier dizendo
“outra vez na pista, outra vez os sonhos despedaçados e apenas a alegria de ter
percebido logo”, devemos pensar que todos somos resultados de nossas
experiências e, certamente, ficamos mais “sóbrios” quando se trata de
relacionamentos. A embriaguez do encantamento amoroso fica cada vez mais curta
e a vida vai ficando bem mais sem graça, sem tanto sabor, sem tanta magia. E
isso é necessariamente ruim? Afinal, já passou do tempo de achar que a abóbora vai virar uma carruagem, né?
Ver as coisas sem romantizá-las nos trará certamente uma vida emocional
e mental mais saudável. Veremos a graça, o sabor e a magia em outros aspectos. É quase como adaptar o paladar: aprendemos a deixar de
lado aquela coxinha, nhoque ou pizza cheia de queijo por uma salada com
filé grelhado.Sai a gordura, entram os nutrientes. E como em uma reeducação (alimentar ou não), vemos o
resultado a médio e longo prazo. A morte do amor romântico é o nascimento da
maturidade emocional. Nesse sentido, sai a fantasia e entra o entendimento de viver intensamente cada momento pensando que o outro é na verdade o sortudo da vez. Se ele será o sortudo para toda a vida, bem, essa é outra história.
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